quinta-feira, junho 15, 2006

Dia de merda

Nunca conseguirei explicar o que sinto. Porque não quero e porque é demasiado pessoal para que o consiga partilhar.
As pessoas só se interessam pelo próximo quando o tédio as assola ou quando não há nada em que pensar. Este egoísmo geral deixa-me profundamente triste, mais do que já sou. Porque também eu já fui usada, vezes sem conta, para alívio de várias pressões.
Hoje acordei assim, eufórica demais, com uma energia que só eu sei reconhecer. Acordei com raiva do Carlos, porque destruiu a minha vida sem sequer olhar para trás, sem sequer ter chorado por ter feito alguém infeliz, por me ter substituído num segundo, quando deixei de ser emocionante. Acordei com raiva da Joana, porque não acredito que não haja uma razão lógica para a mudança nas nossas vidas; continuo com raiva porque ela nem sequer tentou explicar o que sentia, como se nós não fôssemos suficientemente sensíveis para entender ou para, simplesmente, dar-lhe um abraço sem dizer palavra.
Sinto raiva porque não entendo o que faço de errado, não entendo porque não posso ser, simplesmente, feliz. Talvez porque a felicidade não é simples. Talvez seja mais complexa do que todos querem admitir, com medo da solidão e da infelicidade. Talvez seja apenas uma estratégia para não acabarem sozinhos, quando algo correr mal ou quando todos tiverem constituído a sua própria família. Talvez seja apenas uma conjugação de aspectos em comum que une as pessoas e cria a dita felicidade da qual, despeitada, sinto raiva.
Sinto raiva da vida, que me pôs no caminho um Tiago, que é, sem sombra de dúvida, o homem da minha vida, que me trata como sempre quis ser tratada e que me diz o que sempre quis ouvir, com a doçura que preciso. Tenho raiva porque a pureza do nosso amor não nos permite entrar por caminhos tão sombrios e falsos como são os caminhos do amor que envolve sexo. É duradouro, é real, sei que não vai acabar mas não chega para me tirar
este aperto, esta dor que já dura há tanto.
Hoje só me apetece chorar, há muito tempo que só me apetece chorar e mandar tudo isto à merda. O Tiago diz que estou doente. Eu concordo. Mas hoje, hoje acordei assim e quando estou assim nem sequer consigo racionalizar a psicologia e a filosofia. Só me apetece chorar e só quero que este dia de merda acabe.

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