"Dancer in the dark"

"Sempre te amei" e parou. Fitou o infinito durante algum tempo. Permaneci no silêncio das suas lágrimas enquanto dizia que nunca sentiria por outra pessoa o que sente por mim.Senti-me no altar, como se não houvesse nada mais importante à face da terra, como se eu fosse tudo o que é preciso no mundo.Depois de tudo o que passou, continua a amar-me, depois de tudo o que ela diz que a fiz sofrer, depois do que a vi chorar...Resisto a esse amor, acredito que não é real, nunca foi. É uma necessidade de dependência, é um truque mental que arranjou para se proteger da solidão que, na realidade, vive. Tento não acreditar que é a única mulher que se entregou totalmente a mim. Que confiou em mim, como se nunca a pudesse magoar, mesmo depois de o ter feito.Nunca a amei, nunca consegui. Mas nunca a enganei, fiz questão de lhe dizer sempre que não queria nem conseguia apaixonar-me por ela. Que nunca iria ser capaz de amá-la.No entanto, tentei esquecer-me do desquilíbrio que páira, como uma nuvem, à sua volta porque a loucura e o desejo de sexo que desperta em mim são surreais. Tentei mas não consegui, há algo sobrenatural que me impede de me envolver com ela, que não me deixa passar para outro nível.Sei que tenho poder sobre ela, sei o que é preciso para seduzir a sua mente, porque é a mente que ela quer ver seduzida; por mais que tente seduzi-la através de jogos eróticos, nunca o conseguirei...Mas resisto, não me entrego, sou desagradável mesmo, afasto-a de uma forma que sei que faz com que ela volte, quase a rastejar, a pedir que não a trate assim, que a ame.Sei que joguei várias vezes com a sua saúde mental, com os seus sentimentos, sempre soube que gostava de mim. Mas sempre acreditei que depois de muitas quedas se afastaria de vez, que fugiria, como todas as outras, como todas as que não foram dignas e, no fundo, não me amaram de verdade. Mas ela ama-me. Depois de tudo o que já passou ainda me ama. E, com lágrimas, mas firme na voz, disse que nunca iria amar outra pessoa. E que nunca deixaria de me amar, mesmo que eu nunca a amasse.Fico sem chão, não entendo. Procuro sempre a lógica em tudo mas aqui não a encontro."Amo-te", disse. E, com lágrimas nos olhos, fechou a porta.