quinta-feira, setembro 07, 2006

Nós

Ela sofre. Tem medo de sofrer e acaba por se magoar a si mesma.
Um dia perguntei-me o que se passaria naquela mente, porque sofre, porque chora. Pensei durante muito tempo e cheguei à conclusão que ela vive uma vida que não é a sua, que engana todos com aquele sorriso, com aquela vida quase surreal...
Depois de tantos anos, vejo que ela é infeliz, no verdadeiro sentido da palavra, que se sente realmente só, apesar de ter tantas pessoas que a amam e se preocupam com ela.
Às vezes penso que se soubessem o que se passa na sua cabeça, a internariam. Porque ninguém a conhece como eu. Não imaginam os seus planos, a sua dor, que insistem em dizer que é clínica e que deve ser tratada. Ninguém a entende como eu, ninguém percebe que cada um tem a sua missão e que a dela está traçada. Ninguém vê que ela é uma desequilibrada emocionalmente e que se habituou a viver assim.
Às vezes queria ser capaz de a denunciar, de a ajudar a sair daquela prisão mas não consigo. Queria ter poder para alegrar os seus dias e modificar a sua vida mas não consigo.
Hoje tivemos uma longa conversa. Ela confessou-me os seus mais profundos medos, as suas necessidades, as suas vontades.
"Eu só quero ser feliz", disse.
"Então porque te escondes nessa carapaça de indiferença e continuas a pensar na dor?", perguntei eu. Ela repondeu-me "Porque é assim que sei viver, sem a dor sinto-me desnorteada. Porque preciso de depender de alguém e não tenho esse alguém. Porque é muito mais simples ocultar o que penso, o que sinto. Ninguém entenderia, porque a minha atitude neste mundo não é coerente com a minha alma. Porque só tu me entendes, só tu realmente me ouves e caminhas sempre comigo, não me deixas cair ainda mais."
Fiquei horas a pensar, a tentar perceber até que ponto esta loucura será sensata. Não será melhor este anonimato? Será que alguém iria realmente aguentar uma verdade tão obscura? Será que teriam força para a conhecer realmente? Seria como conhecer uma pessoa nova.
Talvez devesse denunciá-la, para ajudá-la. Será que a ajudaria? E ela? Será que se adaptaria a ela mesma num mundo tão difícil, será que não estaria a traçar o seu fim?
E que direito tenho eu de definir quando chega esse fim , mesmo que seja esse o seu desejo mais forte?
Fiquei hoje, por aqui, com ela, a pensar, a sofrer com ela, a mentir com ela, a caminhar com ela. Fiquei aqui, a viver esta dor que a acompanha. Ouvimos juntas a música da loucura, livres de qualquer julgamento são...

Ela sofre, muito. Já não sabe viver sem dor. Não a quer mas não sabe viver sem ela. É doente, diriam. Precisa de ajuda, pensariam.
Talvez.
Talvez apenas não queira sentir necessidade de parecer feliz.
Talvez apenas queira voltar atrás no tempo e mudar certas atitudes, para hoje não ter de provar que é uma entre mil, que é uma mulher cheia de força.

Às vezes ficamos juntas, no silêncio dos nossos pensamentos. Sabemos que nos teremos sempre como almas gémeas. Que nunca a deixarei. Que ela estará sempre comigo, mesmo quando a obrigarem a fazer terapia.
Ela sofre, porque finge não sofrer.

6 comentários:

z. disse...

Gostei. vou passar por cá sempre que puder .

Anónimo disse...

Sofrer? O que é sofrer? Na verdade, o sofrimento, amor, tristeza...não existem. São invenções do nosso psíquico. Nós fomos criados à semelhança de Deus. Somos Todos Poderosos. A nossa missão é fazer os outros felizes e jogar fora o nosso egoísmo. Adiciona-me hsgouveia@hotmail.com

Marlene disse...

zamy>| Volta sempre que quiseres. Todos são bem vindos! :)

Marlene disse...

Anonymous>| Poderoso é esse psíquico de que falas. A tristeza é bem real... Missão? Cada um encontra a sua mas acredito que está traçada. Quanto ao facto de termos sido criados à semelhança de Deus só digo uma coisa: LOL :)


Anonima/o, este texto vai bem para além do que quis revelar...take care! :)

tiago disse...

*************

Marlene disse...

********** para si também, o que quer que isto seja...