sexta-feira, março 02, 2007

Down


A minha mãe faleceu há treze anos.
Treze anos.
Tanto tempo...
Hoje sonhei com a sua morte. Mas uma morte fictícia. Porque, no sonho, eu já era adulta.
Estava numa espécie de festa, numa casa que me era bastante familiar, quando me deram a notícia. Parece que ainda tenho presente aquela sensação de tristeza profunda, que já não me lembro exactamente como é, quando morre alguém que nos é próximo.

Parece que ainda sinto o que senti no sonho, uma tristeza, enquanto pessoa adulta, de quem perde a mãe. Uma mãe que acompanha a filha por várias fases da vida, o que não aconteceu comigo.

Acordei cansada, triste por ter sonhado com isto. Por me parecer tão real. Por sentir que ela me faz muita falta. Não porque sinta saudade de momentos em concreto mas sim uma saudade de algo que nunca vivi com uma mãe, como tantas pessoas já viveram, por mais que tanta gente nunca pense sobre isso. Pequenas coisas. Como comemorar os quinze anos. Ou criar discussões, a partir do nada, típicas da adolescência, sei lá...

Lembro-me que um dia, há muitos anos atrás, estava eu com o meu irmão em situação de perigo, através das nossas traquinices e inocência infantis, muito silenciosos claro, para não sermos descobertos, quando a minha mãe deixou os seus afazeres, talvez porque teve um pressentimento e veio ralhar connosco, pelo que estávamos a fazer...(qual era a porcaria que estávamos a fazer agora não interessa nada!!!)

São poucas as lembranças que tenho sobre a minha mãe. E por isso é que sinto a sua falta. Porque não me lembro e não tenho outra forma de sentir saudades. É algo que me falta, porque não vivenciei.

E quando hoje o meu pai falou comigo, um dos primeiros assuntos foi a morte de Manuel Bento, ex-guarda-redes do Benfica, penso eu.

E o meu pai, que está quase quase quase nos sessenta anos de idade, o meu pai que foi um pai e como uma mãe para mim, o meu pai que sempre foi muito nostálgico e que demonstra, todos os dias que tem medo de morrer e que acha que essa data está para breve, apenas disse, quase triste que "realmente, para morrer, só é preciso estar vivo...um homem que estava tão bem ainda, com sessenta anos de idade, foi-se assim, de repente..."

E fiquei triste, muito triste. Passei um dia muito mau. Não consegui evitar os pensamentos negativos, não consegui controlar pensar que ele vai morrer. E que, se eu não morrer primeiro, a dor que sentirei será muito diferente da que sinto por saudades da minha mãe. Porque será uma dor muito real, concreta, com muitas memórias, agradecimentos, momentos, tiques... Porque realmente sentirei a sua falta, de uma forma muito profunda, porque o meu pai sempre foi o meu modelo, um homem de garra. O meu pai.

Hoje o meu dia foi muito triste. Muito triste mesmo.

2 comentários:

Siona disse...

Não tenhas medo. A morte vem, mas não vai ser amanhã. Faz o luto só quando tiver de ser... entretanto, aproveita a vida. A tua, e a dos outros.

P.S. Gosto muito de ti, ok?

Marlene disse...

L>| I'll be fine. Don't worry...