Perdi-me nos meus pensamentos.
Pensei, um dia, que não me encontraria sem me definir. Que uma ilusória segurança me iria segurar ao menos difícil e confuso do ser humano. Que enfiar as diferentes partes da minha vida em prateleiras, devidamente catalogadas, seria o passo mais simples e o único válido para prosseguir sem um aperto no peito.
Houve quem me dissesse que não é preciso estarmos rotulados. Que os sentimentos e desejos não são básicos, que a natureza humana não é assim tão simples. Aceitei-o como lógico mas não mas não concordei, cá no fundo. Precisava de me "definir", precisava de sentir que era X ou Y ou que pertencia ao grupo A ou B.
Mas a natureza humana não é mesmo nada linear. E percebi que se calhar não pertenço nem a A nem a B... Mas não consigo obter todas as respostas às perguntas que me perturbam.
Procuro compulsivamente encontrar pistas em mim sobre quem sou. E ando em círculos na minha própria cabeça. Algo que me entristecia tanto antes e que foi acalmado por estradas da vida, por dias e chuva, hoje foi reacendido pela minha essência, que não consigo evitar, esconder de mim mesma. E logo aí, insisto em catalogar-me. Em perguntar se este rótulo, onde me colei, corresponde à pessoa que sou.
Ouvi que pode ser apenas "vontade de estar triste". Será possível? Será que desejo complicar, para descomplicar o que me custa viver? E estar assim, de novo, profundamente triste por outros motivos? Será que é como uma droga e afinal, os rótulos até nem têm a importância que insisto em atribuir-lhes?
Perdi-me no que penso, no que sinto. No que é realmente importante pensar e sentir.
Sei o que sinto. E penso que algo que fosse realmente insignificante não teria estes efeitos tão perturbantes. O que me faz confusão é que as siglas, os rótulos, as etiquetas e as definições não chegam para mim. Pertencerei ao abecedário? Serei apenas eu? (Definição-EU... parece-me bem...)
Mas falta-me. Falta-me realmente descobrir, porque sei o que sinto. Falta-me sentir o cheiro, o sabor, a atitude, a forma do que sei que sinto, apesar de não me contentar com isso apenas. Conjugação de formas e letras é o que sei que me faz falta. Talvez mais de umas do que outras. Por momentos apenas algumas, noutros momentos, outras diferentes...
Perco-me constantemente. No silêncio dos meus pensamentos.
quarta-feira, agosto 29, 2007
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2 comentários:
Por vezes, as palavras não bastam.
A linguagem é incompleta, insuficiente, imperfeita...
Às vezes, o silêncio basta.
Mas sim, percebo.
Ao macaco nu fazem-lhe falta rótulos, etiquetas, designações e toda a restante parafernália simbólica e gráfica...
É a existência, a contínua existência, de rotulos, nesta sociedade, neste mundo, que nos deixa mais e mais confusas. Somos apenas pessoas, e é a nossa essência que conta, o nosso "EU" como dizes. Não temos de fazer parte de nada, e enquanto não conseguirmos aceitar isso, vamos acordar tantas vezes com essa duvida, afinal de que lado estou? Quem sou? O que sou?
Sê tu! =) ***
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