Procura-me num sorriso

Estou estranhamente bem. Com uma calma que me transtorna, que me deixa ansiosa e vazia. Queria poder mostrar-te quem sou. Dizer-te o que sempre quis ouvir, dizê-lo com vontade e com tesão suficiente para acreditar nas minhas próprias palavras. Faltava-me carimbar a minha vida, com um carimbo reconhecível, com letras legíveis e o logotipo da minha essência. E essa, qual é?
Queria ser capaz de rir com vontade, de chorar de tanta alegria, de conhecer o prazer sem limitações, sem entraves sociais, que confundem o meu conceito próprio de liberal. Queria destruir o preconceito que vive comigo, que me persegue, camuflado, escondido por e em mim.
Gostava de questionar a força suprema sobre os seus planos para a minha jornada aqui, sobre as barreiras que ainda terei de saltar, as metas que cortarei...as lágrimas que ainda vou chorar.... Queria perceber porque será preciso viver no abismo ou à beira dele, para se conseguir prosseguir com esta caminhada... e viver a mil... sem perceber bem porquê...
Faz-me sentir mais leve, imune à parte má destas vivências, parar de respirar, por segundos, e sentir a adrenalina, o sangue a correr acelerado dentro de mim... faz-me sentir que estou viva, que há algo que me aguarda, bom ou mau...
Vês a minha face mas não encontras nada do que não quero mostrar, nada do que nem sequer mostro a mim mesma. Não me vês, ninguém o faz, essa parte ficou selada na Caixa, onde eu disse que um dia iria guardar toda a minha vida. Mas gostava que tentasses abri-la e que me confrontasses comigo mesma. Queria que me ouvisses, que me visses, queria que estivesses comigo quando choro à noite com medo de não conseguir abrandar esta velocidade ilusória, de acordar e estar noutra dimensão, a viver uma vida que não quero e à qual fujo a sete pés. Queria que ouvisses o grito no meu sorriso, que me confortasses e me fizesses respirar, suspirar e adormecer ao teu lado.