segunda-feira, outubro 02, 2006

Venham lá as críticas...

Confesso que pensei bastante na forma como deveria começar este post. E cheguei à conclusão que devo começar por deixar bem claro que todos os pensamentos que exponho aqui são de facto periféricos e não constituem, de todo, a minha forma de ver a vida. Não tento, à partida, desculpar-me pelo que escrevo mas no fundo às vezes penso em coisas que são tabú para muita gente e que, normalmente, são evitadas nas conversas do dia-a-dia ou mesmo até em debates mais profundos por desafiarem as "regras" da moral... E também gostaria de frisar que, a minha ética leva-me a pensar que todos os violadores/pedófilos/incestuosos são uns nojentos e devem pagar bem caro pelos crimes que cometem.
Anyway, sempre fui uma "destemida". Nunca procurei os problemas ou situações de risco mas, regra geral, quando fui confrontada com tal panorama, no passado, admito que nunca fiquei realmente nervosa com o que poderia acontecer.
Tenho consciência da criminalidade dos dias de hoje mas penso que sempre a coloquei num patamar distante, como o cancro ou a SIDA, pois, eu sei... Sei que existe criminalidade mas, para mim, sempre foi uma realidade muito distante, difícil de acreditar realmente porque não me era palpável nem relativamente próxima. Não conhecia ninguém que tenha sido vítima de violência física e posteriormente tenha sofrido mazelas a nível psicológico. Mas recentemente tive conhecimento de um caso de violação no bairro onde moro. Podem pensar que estou a fazer um grande alarido mas o facto é que sempre morei neste bairro, toda a minha vida e, apesar de ser considerado problemático, nunca sofri qualquer tipo de agressão, nem tive nenhum género de problemas. Pensava eu que, por ser do bairro e por conhecer grande parte da população pelo menos de vista, estava protegida. Que por ter crescido aqui, tudo o que de errado pode acontecer, nunca me aconteceria a mim nem a ninguém que eu conhecesse. Mas o facto é que aconteceu, bem berto de onde moro. E agoro vejo a criminalidade como algo a que escapei, estes anos todos, por mera sorte, não por ser "vizinha", como sempre pensei. Existe. E agora temo-a mais do que tudo. Tenho medo de andar sozinha na minha própria rua quando está um pouco mais escuro...
Sinto-me extremamente triste pela pessoa que foi violada, às portas da sua casa, ameaçada por uma pistola, por um morador do bairro. Acredito que está completamente transtornada porque se eu apenas sou "vizinha" e me sinto assim...
Todo este tema e acontecimento veio desencadear uma longa conversa com a minha querida Nina, que tem sempre uma história para contar...
Falou-me num caso que, segundo ela, foi bastante noticiado na altura ( há certa de cinco meses atrás), que envolvia uma família e um segredo que até agora me está a dar voltas no estômago...
Num bairro de Lisboa, vivia uma família supostamente muito feliz. O pai, chefe de família muito apaixonado pela esposa, a trabalhar no estrangeiro para dar uma vida melhor às duas filhas de ambos, vinha a Portugal poucas vezes durante o ano. A filha mais velha, uma rapariga muito doente, desde sempre, necessitava frequentemente de cuidados médicos e de internamento hospitalar.
Ora bem, esta adolescente que toda a vizinhança sempre conheceu doente e tristonha, pensando eles que devido à sua doença incurável, certo dia engravida. Foi um choque para todos, que sempre a conheceram tímida e cabisbaixa, menos para o pai que, nas poucas visitas a Portugal, era extremamente carinhoso e dedicado às suas duas filhas, excessivamente preocupado, aqueles que, normalmente chamamos "pai-galinha".
A adolescente, chamemos-lhe "Sara", acabou por dizer a todos que, certa noite, conheceu um rapaz com quem se envolvera e de quem tinha ficado grávida. Todos acreditaram, aceitaram, o rapaz, que até gostava da Sara acabou por casar com ela, ajudando-a com a nova vida e com o filho que havia nascido.
Um dia, a Sara foi a casa dos pais e encontra o seu pai a ter relações sexuais com a sua irmã mais nova, nesta altura com dezasseis anos. Completamente alterada, decide acabar com o segredo obscuro da sua vida e contar ao seu marido o porquê de tanta tristeza ao longo dos anos. Sara havia sido abusada sexual e psicologicamente desde os sete anos de idade pelo próprio pai. A pressão que sofreu durante anos e a forma como o seu pai enganou todos com uma atitude super "normal" transformou-a numa pessoa extremamente triste, incapaz de contar a quem quer que fosse o que se passava, devido a um sentimento de culpa que não sabe explicar...
Resultado destes anos, o seu filho é também seu irmão. O seu pai, um violador incestuoso, neste momento está preso, a cumprir quatro anos de prisão(!), apenas pagando pelos crimes que cometeu contra a sua filha mais nova...


Durante a nossa conversa, pus-me cá a pensar sobre isto e até que ponto um violador/pedófilo/incestuoso é um doente mental... Até que ponto não é legítimo o desejo sexual, seja ele por quem for? Penso que, no fundo, o que é criticável é a incapacidade que estes violadores têm para controlar estes impulsos sexuais. Porque, todos somos livres e o ser humano não consegue evitar sentir desejo sexual, muitas vezes sem explicação. O que diferencia os "sãos" dos que habitualmente alegam insanidade mental é essa incapacidade. Penso que é a forma como se sentem "esmagados" entre a força da moral e a sua líbido que faz com que aconteçam tantos casos destes.
Quanto aos pedófilos, acho que a violação começa essencialmente, em grande parte dos casos, por sedução psicológica para com a criança/adolescente. Sabem o que dizer exactamente para que soe bem aos ouvidos de uma pessoa ainda em fase de formação pessoal...Mas que patologia é esta, quando pessoas tão supostamente "normais", como o pai de Sara, conseguem esconder este desejo durante tantos anos? Porque, no fundo ele sabia que o que fazia é errado segundo as regras e leis da nossa sociedade, por isso manteve aquela pressão sobre as filhas e o segredo... Então, que linhas me indicam que este homem era um louco, se sabia distinguir o errado do correcto, escondendo o seu desejo, esse sim que não sabia como controlar, pelas filhas, de todos os que o conheciam como um pai de família extremoso?
Eu vejo-o mais como um criminoso muitíssimo inteligente, meticuloso, perfeitamente são e consciente dos impedimentos do seu desejo...
Isto tudo para dizer que pensei sobre isto e que me sinto terrivelmente discriminada por pensar sobre estas coisas e por achar que simplesmente, ninguém consegue controlar o desejo sexual, seja ele moralmente aceitável ou não. E que o que se pode controlar é o resultado desse desejo. Quando falei sobre isto, quase me lincharam, as mães que taparam os ouvidos ao que penso, pararam na parte em que disse que um pedófilo não consegue controlar sentir desejo. Penso que as suas mentes maternas não conseguem assimilar estes meus pensamentos... Por isso, venham lá as críticas...

1 comentário:

tiago disse...

o que eles precisam é de ajuda psicológica!! mandem-nos todos para os nossos consultórios... dinheirinho.. dinheirinho... (daqui nada já faço um comentário com jeito)